sábado, 18 de agosto de 2012

Deram-me um corpo, só um!
Para suportar calado 
Tantas almas desunidas 
Que esbarram umas nas outras, 
De tantas idades diversas; 
Uma nasceu muito antes
De eu aparecer no mundo,
Outra nasceu com este corpo,
Outra está nascendo agora,
Há outras, nem sei direito,
São minhas filhas naturais,
Deliram dentro de mim,
Querem mudar de lugar,
Cada uma quer uma coisa,
Nunca mais tenho sossego.
Ó Deus, se existis, juntai
Minhas almas desencontradas.

(Murilo Mendes)

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