segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Azulejos retorcidos pelo tempo 
Fazem paisagem agora no abandono 
A que eu mesmo releguei um mal distante. 
Faz muito tempo e a paisagem é a mesma 
Não muda nunca – sempre indiferente 
A céus que rolem eu infernos que se ergam. 
Alguns vitrais. E em cinerama elástico
O mesmo campo, o mesmo amontoado
Das lembranças que não querem virar cinzas.
Três lampiões. As cores verde e rosa
A brisa dos amores esquecidos
E a pantera, muito negra, das paixões.
Não passa um rio enlameado e doce
Nem relva fresca encobre a terra dura.
É só calor e ferro e fogo e brasa
Que insistem como cobras enroladas
Nos grossos troncos, medievais, das árvores.
Uma eterna camada de silêncio
E o sol cuspindo chumbo derretido.
O céu é azul – e como não seria?
mas tão distante, tão longínquo e azul…

Torquato Neto (1944-1972)

Pintura: Peder Mork Monsted

Nenhum comentário:

Postar um comentário