segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Pus o meu sonho num navio 
e o navio em cima do mar; 
— depois, abri o mar com as mãos, 
para meu sonho naufragar.

Minhas mãos ainda estão molhadas 
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre dos meus dedos
colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio…

Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito:
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e minhas duas mãos quebradas.

(Cecília Meireles)

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